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Como a reprodução assistida pode ajudar pessoas com HIV?

Como a reprodução assistida pode ajudar pessoas com HIV?

O Ministério da Saúde estima que cerca de 135 mil pessoas vivam com HIV no Brasil sem saber. Dessas, a maioria está em idade reprodutiva, tornando o contágio não só um problema de saúde pública, mas também um alerta para quem tem o sonho de ter filhos. 

“Das pessoas que estão enfrentando essa dificuldade, cerca de 85% estão em idade reprodutiva e são, em sua maioria, jovens que desejam formar família. Assim, a reprodução assistida tem um papel fundamental na tentativa de resolução desses casos, uma vez que o risco de transmissão do vírus é uma barreira para a gestação natural”, explica Íris Cabral, embriologista e chefe do Laboratório de Reprodução Assistida da Genesis.

A pessoa soropositiva precisa fazer acompanhamento com um infectologista. “Isso torna o manejo dos gametas mais seguro e mais fácil. E vale tanto para homens quanto para mulheres: ao chegar aqui com exame positivo, é necessário que um infectologista ateste que a contagem viral do paciente está muito baixa ou indetectável, reduzindo, dessa forma, o risco de infecção”, explica.

São três situações a serem consideradas quando falamos em casais soropositivos que desejam ter filhos:

  1. O homem é soropositivo

Essa situação é mais fácil de manejar em reprodução assistida devido a um processo chamado lavagem seminal, estabelecido por protocolos médicos e laboratoriais.

“Essa lavagem é uma filtragem feita em laboratório: lavamos o sêmen e o separamos do líquido seminal para que fique apenas com a alíquota de células espermáticas. A partir da lavagem, é possível retirar o vírus e filtrar uma parte de sêmen limpo. Em seguida, utilizamos uma técnica de baixa complexidade chamada inseminação intrauterina, já sem o risco da transmissão. O médico deposita perto das trompas da paciente uma fração de sêmen lavada. Não temos relato na literatura de transmissão do vírus HIV por sêmen lavado”, detalha Íris.

  1. A mulher é soropositiva

Este cenário é um pouco mais complicado. Na reprodução assistida, a técnica utilizada neste caso deve ser a fertilização in vitro (FIV). Será necessária toda a preparação de estimulação ovariana, recuperação oocitária, preparo do sêmen e realização de uma técnica chamada injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), que consiste em depositar um único espermatozoide dentro de cada óvulo. 

As restrições que os serviços de reprodução humana normalmente impõem é que mulheres soropositivas não podem ter nem óvulos nem embriões congelados. “Porque existe risco, mesmo que baixo, do material estar contaminado e, como é armazenado em um tanque comum, pode haver transmissão do vírus, uma vez que o nitrogênio banha todos os embriões para preservá-los”, salienta a embriologista. 

Existem, no entanto, serviços que possuem tanques para patologias específicas. Nesses casos, o armazenamento de óvulos e embriões de casais sorodiscordantes é uma possibilidade.

  1. Os dois são soropositivos

Neste caso, também será necessário acompanhamento com infectologista e fertilização in vitro pela técnica de ICSI. É fundamental o acompanhamento médico durante todo o processo.

Medidas de segurança – O laboratório da Genesis segue todas as normas de biossegurança da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, todos os pacientes que possuem material congelado aqui, seja óvulo, embrião ou espermatozoide, independentemente de ter HIV ou não, são avaliados por uma bateria sorológica especificada nas normas da Anvisa.

“Em casos extremos, em que o paciente precisa congelar seu material urgentemente devido a uma quimioterapia, por exemplo, mas não tenha feito ainda esses exames, armazena-se o material em um tanque de quarentena. Se apresentar sorologia positiva, ele é chamado para que seus gametas sejam enviados para outro centro que tenha possibilidade de armazenar material considerado infecto-contagioso”, esclarece a embriologista.

Parto e amamentação – “Quanto ao parto, existem protocolos específicos do Ministério da Saúde para que ele seja conduzido de forma a evitar contaminação entre mãe e feto. Também existe a restrição da amamentação por conta do risco de transmissão do vírus pelo leite materno”, explica Íris. 

Pós-parto – O vírus pode se manifestar em até 15 anos. É possível ser portador e não saber. “Já houve casos de casais que só descobriram ser sorodiscordantes quando decidiram realizar uma FIV e fizeram os exames sorológicos. Portanto acredito que, nesses casos, além de todos os exames rotineiros da criança, como o teste do pezinho, o pediatra deve continuar fazendo acompanhamento por um tempo, porque a manifestação pode não ser imediata”, finaliza.

Por Gabriela Brito Conversa | Estratégias de Comunicação Integrada