Março é um mês pautado pela saúde feminina: além da conscientização da endometriose, ele também alerta para a conscientização do câncer de colo de útero, doença causada pelo papilomavírus humano (HPV) que, por sua vez, acomete entre 25% e 50% da população feminina mundial e 50% da população masculina, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
“A infecção pelo HPV é muito prevalente na população. Muitas vezes esse vírus será combatido pelo próprio sistema imunológico; em outras situações, ficará adormecido, sem ocasionar problemas. Em alguns casos, porém, pode causar lesões nas células do colo do útero que, caso não sejam diagnosticadas e tratadas, podem progredir para o câncer”, explica a ginecologista e obstetra da Genesis Maria Eduarda Amaral.
Câncer de colo de útero e infertilidade – Não é apenas a doença em si que pode levar à infertilidade, mas também o tratamento contra o câncer. No caso das mulheres, cirurgia, quimioterapia e radioterapia podem provocar lesões nos ovários e, portanto, comprometer a fertilidade por redução da quantidade de folículos que contêm os óvulos ou provocar quadros extremos, como suspensão temporária da menstruação ou menopausa precoce. A intensidade desses efeitos também varia de acordo com a idade da paciente, medicação, dose usada, duração do tratamento e reação de cada organismo.
“O tratamento cirúrgico do câncer de colo de útero depende do estadiamento do tumor. Em tumores precoces é possível realizar cirurgias que preservam a fertilidade, como a conização e a traquelectomia, que retiram somente o colo e mantêm o corpo do útero. Em casos mais avançados, porém ainda passíveis de cirurgia, é necessário realizar a retirada total do útero (histerectomia)”, detalha Maria Eduarda.
Reprodução Assistida – Os tratamentos de reprodução assistida entram como fortes aliados de pacientes com câncer que desejam preservar sua fertilidade para realizar o sonho de ter filhos depois do tratamento. Mulheres podem recorrer ao congelamento de óvulos e homens, ao congelamento de espermatozoides. As mulheres histerectomizadas que tiveram seus óvulos congelados previamente ao tratamento podem se tornar mães com a ajuda de um útero de substituição.
“O tratamento com útero de substituição é também conhecido como barriga solidária. Forma-se o embrião usando o óvulo da paciente, que posteriormente é transferido ao útero da cessora temporária. No Brasil, a cessora temporária de útero precisa ser parente em até quarto grau do casal, e casos excepcionais a essa regra podem ser julgados e autorizados pelo Conselho Federal de Medicina”, explica Maria Eduarda.
O vírus – De acordo com o Ministério da Saúde, existem cerca de 150 tipos de HPV, separados entre as categorias de alto e baixo grau de desenvolvimento de câncer (chamados de oncogênicos). Quarenta tipos podem aparecer nos genitais. Destes, 12 podem levar a algum tipo de câncer, como os do colo de útero, vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe. Em cerca de 10% dos casos, o HPV pode levar à aparição de verrugas genitais.
O HPV é transmitido por contato direto com a pele ou mucosa infectada e é altamente contagioso. A contração mais comum é por relação sexual e pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Também pode haver transmissão durante o parto. Um fato que aumenta a propagação do vírus é muitas pessoas portadoras não apresentarem nenhum sinal ou sintoma e, sem saber, passá-lo para outras.
Apesar de ser considerado o principal vírus relacionado a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no mundo, felizmente a maioria das pessoas consegue eliminar o vírus naturalmente em cerca de 18 a 24 meses, sem que ocorra nenhuma manifestação clínica.
Diagnóstico – As verrugas genitais podem ser diagnosticadas pelos exames urológico (pênis), ginecológico (vulva) e dermatológico (pele). Já as lesões precursoras de um câncer do colo de útero podem ser detectadas pelo papanicolau (chamado de citopatológico), muito importante para a prevenção de diversas doenças e para o acompanhamento da saúde genital feminina. A confirmação da infecção pelo HPV pode ser feita por exames laboratoriais de diagnóstico molecular, como testes de captura híbrida e PCR.
O acompanhamento regular, tanto entre homens quanto entre mulheres, além das medidas de proteção, é fundamental para a prevenção contra o HPV e diversas outras ISTs.
Prevenção – Medidas como evitar ter muitos parceiros sexuais, manter higiene pessoal frequente, tomar a vacina contra o HPV e usar camisinha são importantes para se prevenir contra o HPV e diversas outras doenças. Vale ressaltar que a camisinha, apesar de proteger contra a maioria das DSTs, não impede totalmente a infecção pelo HPV, porque frequentemente as lesões estão presentes em áreas não protegidas pelo preservativo.
“Como o HPV é uma infecção muito prevalente na população e é assintomática, virtualmente todas nós temos chance de termos nos exposto ao vírus em algum momento, independentemente do número de parceiros ou orientação sexual. A vacina é um mecanismo de prevenção importante, já que confere proteção a quatro tipos de HPV. No entanto, como existem outros tipos circulantes, é imprescindível que seja mantida a rotina de coleta de papanicolau e o acompanhamento regular com ginecologista”, alerta Maria Eduarda.
Por Gabriela Brito Conversa | Estratégias de Comunicação Integrada