Dormir mal pode causar mais problemas além do cansaço, irritabilidade e falta de concentração. Um estudo publicado na revista científica Fertility and Sterility aponta que a má qualidade do sono também pode impactar a fertilidade feminina, especialmente em mulheres entre 20 e 40 anos.
A pesquisa analisou os hábitos noturnos de mais de mil mulheres, por meio do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, cruzando os dados com exames de sangue e ultrassonografias transvaginais. O resultado foi claro: há uma relação entre distúrbios do sono e a diminuição da reserva ovariana, ou seja, a quantidade de óvulos disponíveis nos ovários.
De acordo com a ginecologista e especialista em reprodução humana do Centro de Assistência em Reprodução Humana – Genesis, Dra. Maria Eduarda Amaral, os impactos da insônia podem ser profundos e silenciosos. “O sono tem papel essencial na regulação hormonal. Quando uma mulher não dorme bem, há alterações no funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, responsável por controlar os hormônios que regulam a ovulação, como o FSH [hormônio folículo estimulante] e o LH [hormônio luteinizante]”, explica a médica.
A perda de óvulos ao longo da vida é um processo natural e esperado, sobretudo com a aproximação da menopausa. No entanto, a pesquisa indica que a privação de sono pode acelerar esse desgaste, prejudicando a fertilidade em idades mais jovens. “Essa diminuição precoce da reserva ovariana pode afetar a resposta da paciente a tratamentos de fertilização in vitro, dificultando a coleta de óvulos e reduzindo as chances de sucesso do procedimento”, complementa a Dra. Maria Eduarda.
Além disso, a privação de sono está associada a um aumento nos níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Tal fator pode desencadear processos inflamatórios crônicos, que também comprometem a função reprodutiva. Por outro lado, dados do relatório anual da Philips sobre o sono indicam que apenas 49% da população mundial está satisfeita com sua qualidade de descanso. Para a especialista, é fundamental prestar atenção à higiene do sono e buscar ajuda profissional quando necessário.
A médica destaca a importância de evitar o uso de telas antes de dormir, manter um ambiente escuro e silencioso e respeitar os horários do corpo como medidas essenciais para preservar o sono e a saúde reprodutiva. “Infelizmente, ainda se subestima o poder restaurador de uma boa noite de sono. Dormir pouco ou mal pode impactar não só a fertilidade, mas também contribuir para o desenvolvimento de doenças como diabetes, depressão e problemas cardiovasculares”, conclui a ginecologista.