Na última sexta-feira (22/5), nosso ginecologista e obstetra Nícolas Cayres fez uma transmissão ao vivo em nossas redes para atualizar grávidas e tentantes sobre o que precisam saber a respeito do novo coronavírus.
Possíveis riscos para mulheres já grávidas – Até agora, não há registro de nascimento de crianças com malformação causada pela covid-19. Os estudos mais avançados sobre isso são da China, e alguns deles apontam que, devido ao fato de o novo coronavírus poder causar alterações vasculares, há evidências de que possa estar relacionado ao risco de abortamento e a alterações no fluxo feto-placentário no primeiro trimestre de gravidez.
“Ou seja, isso pode gerar aumento de partos prematuros e de alterações de crescimento para o bebê. Mas não é motivo para desespero. Cada gestante deve manter o acompanhamento individualizado com seu ginecologista. É preciso frisar que, apesar dessas possíveis alterações placentárias, não existe, até o momento, nenhum estudo que mostre que o coronavírus atravesse a barreira placentária. Ele pode causar alterações na constituição e na circulação placentária, mas não atravessar a barreira e causar danos ao feto”, explica o Dr. Nícolas.
Vale ressaltar que novas informações sobre a covid-19 surgem a todo momento e é preciso constante monitoramento e atualização.
Como se prevenir – As recomendações até o momento são as mesmas que já conhecemos: isolamento social ou ao menos o distanciamento, caso não possa ficar em casa ou tenha um emprego de risco, e uso de máscara e de álcool em gel.
Uma dúvida frequente é o uso de medicamentos. Na medicina, existe o princípio ético da beneficência e da não maleficência. Isso significa que prescreve-se um medicamento levando em consideração o quanto ele pode fazer bem e o quanto ele pode causar danos e efeitos colaterais.
“Hoje em dia fala-se muito sobre azitromicina, cloroquina e nitazoxanida, conhecido como Annita. Primeiro: todas essas medicações são conhecidas como off label para o tratamento da covid-19, ou seja, não têm sua eficácia comprovada. A cloroquina e essas outras medicações para uso profilático, ou seja, quando você toma para se prevenir da doença, não são aconselhadas. Hoje, o Ministério da Saúde está dando diretrizes para que os médicos, de acordo com seu critério clínico e expertise, prescrevam ou não as medicações. Eu não aconselho e não há estudos indicando o uso profilático desses remédios contra a convid-19”, esclarece Nícolas.
Via de parto – Até o momento, não há evidências de que pacientes infectadas pelo vírus precisam modificar a via de parto. Isso vai depender de fatores inerentes à gestação em si. “Como disse, não há evidências de transmissão do novo coronavírus por via placentária nem pelo líquido amniótico, então a via de parto deve ser decidida por indicação obstétrica. O médico deve usar o equipamento adequado de proteção: face shield, aquela máscara semelhante a de bombeiro, e a máscara N95”, complementa Nícolas.
Amamentação – Ainda que a mãe esteja infectada com, estudos vigentes mostram que o benefício de amamentar ainda supera o de não fazê-lo. Se a mãe apresentar sintomas ou testar positivo, deve usar máscara sempre, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel e, depois de amamentar, manter o distanciamento social de, pelo menos, 1,5 metro.
Transmissão sexual – Os estudos têm mostrado que não existe expressão da covid-19 no sêmen, então ainda é questionável a transmissão do vírus por via sexual, apesar de algumas evidências mostrarem alterações no sistema reprodutivo, conforme explicado no início.
Afinal, engravidar ou não agora?
Do ponto de vista reprodutivo e biológico, sabe-se que a curva de fertilidade e a reserva ovariana caem após os 35 anos e, quanto maior a idade, maiores os riscos de malformações. Por isso, antes de tomar a decisão, deve-se considerar pacientes que se encontram geralmente em três situações:
1. Pacientes com boa reserva ovariana e sem fatores de risco
São aquelas que geralmente têm entre 10 e 15 folículos antrais. “Todo mês, quando a mulher vai menstruar, são selecionados vários ‘pré-óvulos’, mas só um torna-se um óvulo sadio e maduro que posteriormente é convertido em embrião”, explica Nícolas. Por meio dessa seleção de ‘pré-óvulos’ é possível avaliar a fertilidade da paciente. Teoricamente, mulheres que se enquadram nessa situação conseguirão engravidar depois. “Adiar a gravidez por seis meses para pacientes com esse perfil não acarreta em prejuízo. Então, se for possível, indico esperar um pouco mais, devido ao cenário de pandemia”, aconselha. O acompanhamento obstétrico deve sempre ser feito.
2. Pacientes com boa reserva ovariana e com fatores de risco
Pacientes com boa contagem de folículos antrais, mas que apresentam fatores como hipertensão, sobrepeso, diabetes e resistência insulínica aumentada. Essas são condições que podem implicar em gravidez de alto risco: hipertensão e obesidade podem, por exemplo, levar à pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional. E o novo coronavírus afeta pessoas que têm essas condições, chamadas de fatores de síndrome metabólica. “Na gestante, temos que considerar também o sistema imunológico mais frágil. Se agregarmos tudo isso, essa gestante estará mais suscetível a infecções, inclusive à covid-19. Tendo uma boa reserva ovariana, pode ser interessante usar o período da pandemia para tratar primeiro os fatores de risco”, explica o ginecologista.
3. Pacientes com baixa reserva ovariana e fatores de infertilidade
Mulheres nessa situação precisariam de um tratamento de reprodução assistida. A Genesis segue as diretrizes da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), que estão embasadas também na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). A recomendação, em virtude de todos os risco de exposição da pandemia, é o adiamento dos tratamentos de reprodução assistida para pacientes que podem esperar, ou seja, aquelas com reserva ovariana regular, com idade mais baixa.
As pacientes que não podem esperar são as que estão na pré-menopausa e principalmente as oncológicas, porque precisam iniciar o tratamento contra o câncer que pode afetar seus ovários, como a radioterapia. Nesses casos em que não é possível o adiamento, a recomendação é fazer a estimulação ovariana e o congelamento dos óvulos ou embriões. Transferências estão suspensas por enquanto, diante dos riscos.
A SBRA está em consenso com a Red Latinoamericana de Reproducción Asistida (REDLARA) e nenhuma clínica da América Latina está transferindo embriões. E por que não? “O tratamento implica em riscos: sair de casa várias vezes por semana, se submeter a procedimento cirúrgico – que não é isento de riscos –, a fertilização in vitro tem efeitos colaterais e, se precisar de internação hospitalar, não é o melhor momento para se expor a esse ambiente”, explica o Dr. Cayres.
Acesse a nota técnica da Anvisa e a nota da SBRA para saber mais detalhes.
Por Gabriela Brito Conversa | Estratégias de Comunicação Integrada