Existem três fatores a serem considerados para detectar a falha de implantação: a qualidade embrionária, o número de transferência de embriões e a idade da mulher. Quando a gravidez não é detectada por ultrassonografia após a transferência de quatro embriões de qualidade e pelo menos três transferências embrionárias a fresco ou de embriões congelados em uma mulher jovem (de idade inferior a 40 anos), pode-se dizer que houve falha de implantação.
É preciso atenção a esses três fatores, porque é comum a confusão entre falha de implantação e falha na fertilização in vitro. “Os embriões têm de ser de boa qualidade. Se ocorre, por exemplo, uma resposta ruim aos estimulantes de ovulação, ou os embriões forem de baixa qualidade, ou o procedimento for realizado em mulheres de faixa etária mais avançada – fato que tem correlação com a qualidade embrionária –, não é considerado falha recorrente de implantação”, explica a doutora Hitomi Nakagawa, ginecologista e sócia da Genesis.
Cerca de um terço das falhas de implantação está relacionado a alterações embrionárias. Os outros dois terços estão vinculados ao endométrio ou à interação endométrio-embrião.
A tecnologia para análise embrionária já é bastante desenvolvida e permite, entre outras ações, a classificação, seleção dos melhores embriões e evolução deles até a fase ideal para implantação. “Hoje conseguimos acompanhar passo a passo as características do embrião. Avanços de meio de cultivo e o estudo genético embrionário (para casos personalizados) dão mais insumos para detectar o melhor embrião para que ele possa evoluir dentro do útero”, acrescenta a Dra. Nakagawa.
Já as técnicas de avaliação do endométrio ou da interação endométrio-embrião são limitadas, em sua maioria ainda em fase de pesquisa e nem sempre com comprovação científica para verificar, por exemplo, a existência de algum marcador que interfira nessa interação. Hoje, as técnicas validadas e utilizadas para isso são a ultrassonografia, a biópsia endometrial – para rastrear infecção – e a histeroscopia – espécie de endoscopia da cavidade uterina que analisa a qualidade dessa camada interna do útero ou alterações da cavidade uterina, como mioma e adenomiose.
Para fazer a avaliação do endométrio é necessária uma biópsia endometrial, que pode ser um pouco incômoda para a paciente. “Os exames se baseiam em datar o endométrio, para sincronizar as mudanças desse tecido com o desenvolvimento do embrião. Acontece que esse datamento não é o único fator, porque o endométrio é um tecido complexo e dinâmico e se modifica constantemente. Além disso, existe um período mais propício para a nidação, e não apenas um dia”, explica a dra. Nakagawa.
O endométrio precisa se preparar e se desenvolver para recepcionar o embrião em determinada data coincidente com o período de evolução embrionária. Por outro lado, ele é um tecido que também bloqueia a implantação, em busca somente dos embriões bons. “O trofoblasto – a parte embrionária que vira a placenta – é um tecido muito invasivo. Se ele invade muito, pode haver anomalias, como placenta acreta – quando ela penetra muito na musculatura uterina e pode causar hemorragia pós-parto. Se penetrar de menos, pode causar aborto. Então há um limite que o endométrio tem que comandar para que seja o ideal”, detalha a Dra. Nakagawa.
Caso não aconteça gravidez, o endométrio descama e se prepara para o próximo ciclo. “Além de analisarmos a sincronização da chegada do embrião com a preparação do endométrio, precisamos avaliar todas as variações desse tecido complexo durante o ciclo. Pela quantidade de variáveis, provavelmente não haverá um único exame capaz de verificar tudo isso. Existe uma série de marcadores de receptividade endometrial sendo pesquisados, mas nenhum é definitivo”, salienta.
Assunto foi discutido em Congresso – No XXIII Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida (CBRA 2019), que ocorreu entre 31/7 e 3/8, em Curitiba, a Dra. Hitomi Nakagawa participou do participou do Fertility & Sterility Journal Club Global, um debate ao vivo com especialistas de várias partes do mundo e do painel “Caso clínico 3: congelamento social”, onde foram discutidas possibilidades para lidar com a falha de implantação.
Por Gabriela Brito Conversa – Estratégias de Comunicação Integrada